Carioca de família piauiense. Ilustrou mais de 230 livros e escreveu outros 14, todos infantis. Ganhou 4 vezes o Prêmio Jabuti na categoria ilustração e diversas vezes o selo Altamente Recomendável da FNLIJ.
Quem é a Mariana Massarani?
Carioca cinquentona meio piauiense e meio italiana que gosta de livros e de desenhar.
Você se lembra de você mesma desenhando na infância?
Muito. Em qualquer papel, caderno, livro escolar, braços & pernas, paredes e debaixo dos móveis (para ninguém ver).
Você também trabalhou em jornais, fazendo ilustrações. Poderia falar sobre essa experiência?
Ilustrei no Jornal do Brasil por uns 13 anos. Foi a minha verdadeira escola. A arte da redação era grande, muitos desenhistas com diferentes estilos. Precisávamos bolar os desenhos bem rápido, adrenalina pura. Todos os assuntos! Às vezes nos davam um espaço bacana e especial na matéria, outras vezes era um buraco que precisava ser tapado. Aprendi muito e me diverti pacas.
Qual a primeira coisa que repara em um livro?
A capa! A edição!
O que a Mariana Massarani gosta de ler?
Livros sobre viagens como os do Richard Burton, Humboldt, Bruce Chatwin. Comecei agora a biografia do Rondon. Guimarães Rosa e Graciliano Ramos. Autores africanos, Paulina Chiziane, Isabela Figueiredo, Pepete-la, Mia Couto, Agualusa etc. Orwell, Roberto Bolaño e Truman Capote! Flannery O'Connor, Jane Bowles, Lucia Berlin e Karen Blixen. Jane Austen, mil vezes cada um. Livros infantis!
Algum projeto que gostaria de realizar e não teve ainda a chance ou o tempo?
Um diário de bordo ilustrado sobre saídas de traineira aqui na costa da cidade do Rio de Janeiro.
Por falar em tempo, como é o tempo do desenhar, ilustrar, imaginar imagens?
É bem bom, dá uma euforia! Às vezes algum sofrimento, mas só uns 5% do tempo.
A música tem influência sobre o seu modo de desenhar?
Ela relaxa e me faz ficar mais concentrada.
Existem ilustrações que deram errado? Como são?
Sim! Tem dia que nada dá certo, parece que estou desenhando com o pé esquerdo. No dia seguinte desenho tudo de novo.
André Breton dizia que as palavras "fazem amor", o que podemos dizer das imagens com as palavras? São amigas? Namoram? Brigam muito?
Talvez uma dupla de dançarinos? Piruetas, tango, e até pisadas no pé. Cheek to cheek e depois um número de sapateado!
Existem textos impossíveis de se ilustrar?
Os muito ruins que não deveriam ser editados.
Sobre maneiras de desenhar: você faz os desenhos todos de maneira tradicional ou usa alguma ferramenta digital?
Das duas maneira e às vezes misturo tudo.
Quais são os materiais que você mais usa?
Atualmente tenho usado uma tinta da Acrilex PVA. Sempre uso lápis 6B também. Antigamente desenhava mais com pincel e nanquim, coloria com uma aquarela que vem pronta em vidrinhos. Uma vez fiz um livro inteiro com recorte de papel. Garimpei pedaços com cores e estampas diferentes. Foi bem legal.
Poderia citar alguns ilustradores contemporâneos que admira?
Roger Mello, Kitty Crowther, Yara Kono, Geraldo Valério, Bernardo P. Carvalho, Isidro Ferrer etc. E da velha guarda, mas nem um pouco antigos, Sempé e Quentin Blake!
Existe uma grande diferença entre ilustrar para adultos e para crianças?
Não! Não mesmo.
Agosto de 2019.
[Colaborou nesta entrevista Antonio Akerman Seabra]